DIFERENÇA ENTRE AUTOPRESCRIÇÃO E AUTOMEDICAÇÃO
DRAUZIO VARELA– Qual a diferença entre autoprescrição e automedicação?
ANTHONY WONG – A AUTOMEDICAÇÃO que todo o mundo condena, muitas vezes, é desejável. Há até uma recomendação da Organização Mundial de Saúde de que a automedicação responsável é benéfica para o sistema de saúde. Por quê? Porque nos casos de uma simples dor de cabeça ou de dente, de cólicas abdominais ou menstruais, por exemplo, se a pessoa tomar um remédio que não tenha tarja na caixa por um período curto, vai aplacar os sintomas e dar tempo para que o problema se resolva sozimho. Portanto, automedicação responsável é econômica e ajuda o sistema de saúde como um todo.
Já a AUTOPRESCRIÇÃO, ou seja, o uso por conta própria de remédios com tarja vermelha ou preta na caixa e que só podem ser receitados por médicos, é extremamente perigosa. Para ter-se uma ideia, nos Estados Unidos, onde o hábito está muito menos arraigado do que no Brasil, a reação adversa a medicamentos custa mais de seis milhões de dólares anuais.
DIFERENÇA ENTRE REMÉDIO E VENENO
DRAUZIO VARELA– Todos os medicamentos têm efeitos colaterais ou há remédios sem essa característica?
ANTHONY WONG– Há uma frase de Paracelso, um famoso cientista suíço do passado, que ajuda a clarificar esse assunto: “Não há nada na natureza que não seja venenoso. A diferença entre remédio e veneno está na dose de prescrição”. A água, por exemplo, pode ser tóxica. Os afogamentos são causados por excesso de água e ela é um elemento de considerável importância nos casos de edema cerebral e pulmonar.
Seguindo a mesma linha de pensamento, por estranho que pareça, o veneno mais perigoso do mundo, a toxina botulínica, é usado hoje com efeitos terapêuticos e estéticos no botox.
Vale, então, o alerta para as pessoas que consideram inócuos os analgésicos e os anti-inflamatórios, porque a maioria é de prescrição livre. O ácido acetilsalicílico (AAS) indicado nos casos de reumatismo e para prevenir problemas cardíacos, se usado na vigência de certas viroses infantis, pode precipitar uma lesão hepática grave.
DRAUZIO VARELA – Vamos enfatizar essa informação porque é comum as mães darem AAS aos filhos com febre. Por que não se deve dar AAS para as crianças na suspeita de gripes, resfriados, varicela ou catapora?
ANTHONY WONG – Nas doenças febris, como a catapora ou varicela, e nas gripes fortes causadas pelo vírus da influenza, o AAS pode precipitar uma destruição maciça do fígado. Tanto isso é verdade que esse alerta foi transmitido aos pediatras do mundo inteiro e a incidência dessa complicação caiu, só nos Estados Unidos, de 1.000 para 26 casos/ano.
Além disso, apesar de ser convenientemente indicado no tratamento do reumatismo e na prevenção de problemas cardíacos, pessoas que foram operadas do coração e estão tomando anticoagulantes dicumarínicos não devem tomar doses excessivas de aspirina, porque a recuperação se tornará mais difícil, uma vez que o AAS é uma das causas mais importantes de sangramento gastrintestinal.
ANTHONY WONG é médico pediatra, toxicologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
DRAUZIO VARELA é médico cancerologista, formado pela USP.Durante 20 anos, dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer (SP) e, de 1990 a 1992, o serviço de Câncer no Hospital do Ipiranga, na época pertencente ao INAMPS.Foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS, especialmente do sarcoma de Kaposi
Procure o médico, não se automedique NUNCA!
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