Todos nós conhecemos alguém que tomou a vacina de gripe e ficou gripado. Isso acontece porque a vacina de gripe não é para gripe. Gripe é o nome dado a um conjunto de sintomas causados por diferentes vírus. Os mais comuns são febre, tosse, corrimento nasal e dores no corpo Entre os vírus da gripe que causam esses sintomas está o Influenza, que pode ser do tipo A ou B e ter diferentes sorotipos. O mais famoso é o H1N1.
A vacina contra a gripe é, na verdade, uma vacina contra o Influenza, responsável por cerca de 16% dos casos da doença. Mesmo assim, a ideia que se faz da vacina é que todos devemos tomá-la, se quisermos ficar protegidos. No entanto, é importante registrar que, segundo os melhores estudos sobre o assunto, mesmo considerando somente o Influenza, a eficácia da vacina não é maior do que 60%. Isso quer dizer que, em cada dez vacinados, quatro ainda terão um episódio da doença provocado por esse vírus. Como a vacina se baseia numa previsão de quais sorotipos do vírus Influenza atingirão a população naquele ano, dependendo do grau de acerto, é preciso vacinar entre 30 e 100 pessoas para conseguir evitar apenas um caso de infecção numa delas.
Então, por que todo esse alarde? A mortalidade por Influenza não é maior hoje do que foi no passado. Ao contrário, mesmo levando em conta a epidemia de H1N1 em 2009, a mortalidade caiu significativamente.
Diferente do que ocorreu com qualquer outro medicamento, os estudos que defenderam o uso da vacina não foram nem aleatórios, nem cegos. Isso quer dizer que a vacina não foi dada ao acaso na população e nem comparada com um placebo. Os estudos que validaram seu uso foram observacionais. Verificou-se que idosos vacinados utilizavam menos os serviços de saúde e morriam menos, quando comparados com os dados históricos da enfermidade. Não existe estudo controlado – isto é, com grupo que tomou a vacina comparado com grupo que recebeu placebo – que, de fato, comprove melhora na qualidade de vida ou redução da mortalidade em pacientes vacinados.
Curiosamente, um estudo canadense apontou redução da mortalidade em pacientes com pneumonia vacinados contra o Influenza, quando comparados com os não vacinados. O problema desse estudo é que foi conduzido fora da época do ano em que ocorre a infecção pelo vírus. Com base nesse resultado, os autores concluíram tratar-se do “efeito do usuário saudável” (healthy-user effect). Isso significa que. na época da vacinação, é muito mais provável uma pessoa sadia ter recebido a vacina do que alguém doente.
Cabe lembrar, ainda, que a vacina contra o influenza não é isenta de efeitos colaterais. Na Austrália, a aplicação foi suspensa em crianças menores de cinco anos, pois uma em cada cem crianças teve convulsões por febre após recebê-la. Nos países nórdicos, foram registrados vários casos de narcolepsia (doença neurológica rara) em adolescentes vacinados.
Se tudo que se afirma sobre a “vacina da gripe” fosse verdade, ela seria capaz de salvar mais vidas do que qualquer outro medicamento desenvolvido pelo homem. O que parece é que criamos um excesso de preocupação com uma doença que sempre existiu e, para a imensa maioria da população, não causa mais do que alguns poucos dias de desconforto.
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