Cuidar da saúde com amor e alegria!

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29/04/2012

Atenção humanizada no processo do nascimento



O processo que envolve o nascimento é um evento marcante e natural, acompanhado por diversos aspectos culturais e visto como um dos momentos mais expressivos da vida. O parto costumava ser um evento íntimo, realizado em domicílio, geralmente envolvendo apenas mulheres e com o apoio constante da família. No século XX, no Brasil, especificamente na década de 40, com a justificativa de reduzir a taxa de mortalidade materna e perinatal, o processo do nascimento foi institucionalizado (BRASIL, 2001). 

O parto passou a ser considerado uma área de atuação médica, retirando o domínio da condução da gestante e entregando-o aos profissionais (KITZINGER, 1996). Isto fez com que com que o processo do nascimento deixasse de ser privativo e familiar, e se tornasse público, possuidor de regras, normas e rotinas (BRUGGEMANN et al, 2005). 

Este modelo de atenção medicalizada perdura até os dias de hoje e torna o Brasil um país com um dos mais altos índices de cesáreas no mundo e com práticas obstétricas intensamente intervencionistas, que não asseguram a saúde da gestante e da criança no parto que possui a mulher como protagonista.  
Para tentar reverter às consequências geradas pela institucionalização do nascimento, dentre elas o afastamento da relação familiar, a tensão e o medo das gestantes frente a um procedimento normatizado e realizado tecnicamente, bem como minimizar a mortalidade materna, reduzir riscos e assegurar o respeito à cultura da gestante, foram desenvolvidas ações que visam assistir ao parto de uma forma diferenciada (BRUGGEMANN et al, 2005 e BRASIL, 2001). Surge, então, o conceito de atenção humanizada. 

Humanizar o processo do nascimento é utilizar conhecimentos, práticas e atitudes para a promoção de um parto saudável à gestante e ao bebê. Envolve ações como a transmissão de informação, a individualização da paciente, considerando que é um momento único e diferente para cada mulher, estabelecer relacionamento interpessoal, facilitar a presença do acompanhante, dentre outros (BRASIL, 2001).

A presença do acompanhante é um direito da gestante garantido pela Lei n. 11.108, de 7 de abril de 2005, que obriga os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), da rede própria ou conveniada, a permitirem a presença de um acompanhante escolhido pela parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato (BRUGGEMANN et al, 2005). Na prática, a vigência da Lei não garante sua implementação e por ser uma conquista relativamente recente, necessita da reorganização dos serviços de saúde e dos profissionais que vivenciam essa prática, os quais podem exercer resistência (BRUGGEMANN et al, 2007). 

Visto a necessidade de adaptação em decorrência de alterações relevantes no atendimento ao momento do parto, consideramos que além das mudanças físicas e nas concepções dos serviços de saúde, é imprescindível que haja a divulgação e o preparo da população frente a essa perspectiva de assistência à parturiente. Afinal, a mulher é ativa em seu trabalho de parto e deve conhecer o processo pelo qual está passando e os direitos e escolhas que possui neste momento.

Ainda, consideramos que mulheres preparadas, juntamente com seus acompanhantes, vivenciam de forma adequada este processo complexo que envolve o nascimento. E para que os profissionais da saúde possam promover um ambiente adequado é necessário que busquem conhecimento e novas formas do pensar/fazer a assistência à parturiente.

Texto escrito pelas monitoras do Programa Proficiência Gisele Cordeiro Castro e Vanessa Evelyn de Mello
Referências 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher/ Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 
BRUGGEMANN, Odaléa Maria; PARPINELLI, Mary Angela; OSIS, Maria José Duarte. Evidências sobre o suporte durante o trabalho de parto/parto: uma revisão da literatura. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.21, n.5, out. 2005.
BRUGGEMANN, Odaléa Maria; OSIS, Maria José Duarte; PARPINELLI, Mary Angela. Apoio no nascimento: percepções de profissionais e acompanhantes escolhidos pela mulher. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.41, n.1, fev. 2007. 
KITZINGER S. Mães: um estudo antropológico da maternidade. Lisboa: Editorial Presença; 1996.

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