Madrugada! O plantão estava cansativo e ela estava a ponto de abandoná-lo pois a fadiga de três plantões consecutivos lhe atormentava deixando-a irritada e mal humorada com os pacientes.
Pobre, matava-se de trabalhar a fim de sustentar cinco filhos que o marido lhe deixara como herança ao partir deste mundo para uma melhor, assim ela dizia; além de muitas divídas.
Consciente da sua responsabilidade, tomou um banho frio no repouso dos enfermeiros, bebeu uma xícara de café forte e quente e retornou à sua lida. Nesta noite ela e mais duas colegas foram escaladas para uma enfermaria de portadores de HIV.
Ela não se incomodara pois não alimentava preconceitos de espécie alguma e, apesar do cansaço da sua vida sofrida, amava a sua profissão. Compreendia que aquelas criaturas precisavam dela, dos seus cuidados e do seu amor. E assim os assistia.
Num determinado momento, administrou a medicação venosa num paciente, e, ao invés de descartar seringa com agulha na caixa específica de pérfuro cortante ela o fez no balde de lixo comum. Sabia que já havia ocorrido vários acidentes por causa desta atitude errada por parte de alguns profissionais desatentos, e ela estava cometendo o mesmo erro. Algum funcionário da higienização, ao recolher o saco plástico com o lixo poderia sofrer um acidente e ser picado pela agulha contaminada, ela o sabia e mesmo assim havia sido descuidada.
Olhou para dentro do lixo e não viu onde a agulha havia caído, estava escondida.Teria que calçar dois pares de luvas a fim de proteger-se e revirá-lo até encontrar a agulha. Pensou, pensou e concluiu que não havia pessoa alguma por ali, que não tinham visto o ocorrido; se por acaso alguém se machucasse não saberiam que ela tinha sido a culpada.
Findo o plantão, abatida, cansada, retornou a sua casa para descansar um pouco, quando o telefone toca enquanto ainda tomava o seu café matinal. Era a sua coordenadora solicitando que retornasse imediatamente ao hospital.
Apreensiva ela o fez!
Chegando à sala da coordenadora, encontrou as duas colegas que haviam junto com ela trabalhado na noite anterior. Intimamente sabia do que se tratava mas procurou manter-se calma.
A coordenadora inquiriu as três a fim de saber quem havia desprezado uma agulha no lixo comum pois a funcionária X da higienização, ao recolher o lixo havia sido acidentada com a mesma. Já havia tomado as devidas providências quanto ao caso, por se tratar de contaminação de alto risco, mas precisava saber quem agira daquela maneira absurda.
As suas duas colegas negaram, e ela também.
A coordenadora vendo que não conseguiria descobrir quem era a culpada,deu-lhes uma punição que se refletiu na folha individual de cada uma e no salário.
Refletiu-se também, e muito mais, na consciência de apenas uma delas.
Esta, nunca mais desfrutou de paz espiritual.
*** O nosso maior censor é a nossa consciência que está vigilante 24h ao dia e sempre nos adverte quando lesamos a harmonia ambiental gerando prejuízo à vida. Jamais a enganaremos!
*** O nosso maior censor é a nossa consciência que está vigilante 24h ao dia e sempre nos adverte quando lesamos a harmonia ambiental gerando prejuízo à vida. Jamais a enganaremos!
BLOGAGEM COLETIVA
TEIA AMBIENTAL: PRESERVAÇÃO DA VIDA
bjs,soninha
5 comentários:
Soninha,
quem post magnifico!
Ainda estou arrepiada e com os olhos rasos de água.
Vc relatou-nos um problema gravissimo que eu nunca tinha parado para pensar. Sempre descansei que o lixo contagioso fosse devidamente tratado, não pensei em descuidos ou acidentes. Mas o que mais me perturbou foi sentir que a culpa não foi da coitada enfermeira que ficou de consciência pesada. A culpa é de obrigarem as pessoas a trabalharem tanto. É humanamente impossivel trabalhar bem, debaixo dessas terriveis, esgotantes condições.
Muito obrigada por sua contribuição na Teia.
É precisosa para refletir e alargar conhecimento.
Mil beijinhos,
Rute
Adorei Soninha, você contemplou um assunto quase esquecido ou não conhecido por muitos.
Abraços,
Elaine
Soninha,
você fez um post sobre um assunto que quase não falamos ou sequer sabemos,
Parabéns,
Elaine
Toda mudança de comportamento requer trabalho intimo. Não devemos ter preguiça de termos boas ações. Muita paz!
Nossa, Soninha... que texto impactante !
Assim como a Rute, eu nunca pensei nessas implicações. Talvez por não lidar diretamente com esse assunto...
Há muitos anos eu tenho o cuidado de embrulhar muito bem os vidros quebrados, giletes e outros objetos que podem machucar quem lidar com eles, quando os coloco no lixo.
Aprendi isso, faz muito tempo, quando, no edifício em que morava, o empregado da limpeza teve um corte feio ao pegar o lixo dos moradores. Aprendi na prática, vendo o resultado do descuido de alguém.
Parabéns por sua participação na nossa Teia Ambiental !
Beijo
PS: meu computador está complicadinho e não vou poder mexer mais na minha postagem para ir colocando os links dos participantes.
Postar um comentário